terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

"Era uma casa muito engraçada..."


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Carlos Paez Vilaró

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Vinicius de Moraes

     "Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada...". Todo mundo conhece esses versos infantis do Vinícius de Morais. O que quase ninguém conhece é a seqüência original: "Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada. Ninguém podia entrar nela não, porque na casa não tinha chão. Ninguém podia dormir na rede, porque na casa não tinha parede. Ninguém podia fazer pipi, porque penico não tinha ali, mas era feita com pororó, era a casa de Vilaró".
     Vilaró é Carlos Paez Vilaró, amigo pessoal de Vinícius e idealizador do Casapueblo, a casa em Punta Ballena, no Uruguai, onde o poetinha compôs "A casa" para seus netos.
     Quem passa por Punta Ballena, a apenas 15km de Punta Del Este, não consegue deixar de se maravilhar com a enorme construção branca, sem nenhuma linha reta, que se esparrama sobre as pedras à beira-mar. Tudo começou em 1958 com uma casinha simples de lata, chamada "La Pionera", que serviria de atelier ao pintor, escultor, arquiteto, cineasta, escritor e ceramista.
     Com o tempo, Vilaró começou a cobrir a casa de lata com cimento e cal, pintando sempre o exterior de branco. A casa/atelier foi crescendo e interagindo com o penhasco rochoso de Punta Ballena. Quem a observa, não pode deixar de lembrar de uma mistura de Salvador Dali com Antonio Gaudí. Todo o encanamento do Casapueblo passa pela construção em relevo nas paredes, como se fossem veias de uma enorme estrutura orgânica. "Escultura para viver" é como o próprio artista chama a sua obra, que, 30 anos depois, ainda não está concluída.

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Vilaró - "Borocotó chás Chás" - Ano 2000
Técnica mista - 60 x 80 cm

     Vilaró, com mais de 80 anos de idade, continua trabalhando na sua escultura, construindo um quarto aqui, uma sala ali... O Casapueblo hoje conta com mais de 70 quartos, todos batizados com os nomes dos primeiros hóspedes. Pelé, Toquinho, Vinícius, Robert de Niro, Brigitte Bardot, Omar Sharif, Alain Delon...
     Mas a melhor coisa do Casapueblo é definitivamente a visão do pôr-do-sol, que é comemorada com uma cerimônia onde os hóspedes, nas varandas, escutam uma gravação do próprio Vilaró onde ele fala sobre sua amizade com o sol, que o encontra sempre, no Tahiti ou na África. Com alguma sorte, pode-se assistir ao pôr-do-sol ao lado do próprio artista, que mantém seu atelier no ponto mais alto de sua construção.
     Quem não estiver hospedado no Casapueblo, também pode participar da cerimônia do entardecer e ainda assistir a um vídeo sobre a vida e a arte de Carlos Paez Vilaró, cujo filho estava no avião que caiu no Chile, na cordilheira dos Andes, quando por meses tiveram que comer carne humana.

     Vilaró escreveu um livro sobre o acidente, mostrando sua aflição de pai. Seu livro acabou virando filme de sucesso em Hollywood, mas esta não foi a primeira incursão do escultor no mundo do cinema. Em 1969, fez um filme chamado "Pulsation", filmado durante três anos no Pacífico, com música de Astor Piazolla, que é considerado o precursor da linguagem dos videoclipes.


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"Era uma casa muito engraçada..."
A casa de Vilaró, construída a partir de 1958, marca seu estilo como arquiteto. Vilaró, de talento inesgotável e multifacetado, torna-se pintor, escultor, ceramista, arquiteto e escritor. Seu livro sobre o filho, morto em acidente aéreo, virou roteiro de filme de grande sucesso. E de quebra, sua casa em Punta Ballena, Uruguai, serviu de inspiração para um sucesso musical de Vinícius de Moraes.

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